Infrutescência: Conjunto frutífero resultante de várias flores.
“Infrutescência” também é o título do livro de poemas de Helena Soares que deu origem no roteiro para criação de um espetáculo teatral de mesmo nome. A obra e seus versos são construções poéticas que contém a força, a cultura, a história e a vida suada do povo de Minas Gerais e do povo do cerrado brasileiro.
O espetáculo “Infrutescência” faz um paralelo entre as linguagens do sertão mineiro e do caos urbano, através de sons, palavras e objetos, buscando musicalidade, poesia e afinidades culturais existente entre as mineirices da duas realidades distintas. O espetáculo é resultado de uma pesquisa da linguagem performática, utilizando recursos audivisuaisl e do teatro de formas animadas para apresentar o universo do norte mineiro a partir de uma mulher que se reinventa ao ganhar um livro. No texto, Helena fala da mulher contemporânea e suas inquietações, seus desejos, sonhos e dúvidas, seja ela urbana ou sertaneja. As duas obras fazem um mergulho no sertão mineiro trazendo à tona imagens, sentimentos, fragmentos de memórias vividas e observadas pela autora. Ruminando inquietações, ela diz: ‘‘A palavra não é só a grafia, é antes o desejo de ser, de existir’’. O espetáculo ‘’Infrutescência’’ revela em cena a poesia de personagens que dialogam com o espaço/tempo. Cada personagem sugere uma reflexão ao passo em que se aproxima e distancia o mundo urbano do mundo do sertão.
Do Livro ´´Infrutescência´´ de helena soares
Anjo
Sem falar de mim sendo eu {quase nós}
Com essa consciência de amolar faca
Esse nariz farejando olhares furtivos
Boca {Lábios em direção desejados}
Mãos {dedos massageando palavras} soltando papagaios {outras línguas}
Beijo em qualquer lugar do corpo ou mesmo na alma alivia {acalma}
Essa fúria____________ ânsia no vazio do espaço imperfeito
Torto anjo de barro tonto
Manipulado amassado {admirado de mãos em pés} até orações
Esse estado emudece {dilacera}
Esse dia que traz lembranças
Nem um amor de verdade
Nem um beijo de tirar o fôlego
O anjo caiu e quebrou
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Silêncio_____ ouvidos em busca de ar Um corpo contor________ Cendo formas Cores hormônios variáveis Humores Rumores Suor som de mar
Pios pilares vácuo no abismo do silêncio Tátil a sensação de escutar Mar ainda o corpo de escama Põe-se a respirar Essa sereia carrego fora d'água em ombros que guardo caudas enormes Voz que quer cantar Bonitos moços na beira do mar beijar É nessa água que me contenho contor________ So_______u de azul e estrelas Tua__________ Decifra-me
De mim mesma
Meu coração reclama o que me separa dos que amo de verdade
Deus me deu treze irmãos vivos
Alguns se foram e os que ficaram... Um abraço sufocado no peito grita esse amor que não se concretiza Nem de perto Nem de longe
Oito mulheres e cinco homens mais um que minha mãe pegou para criar
Mangas maduras comidas no pé
Horas sem contar no relógio ouvindo o murmúrio do vento nas folhas
Visto de longe o gado rumina o pasto de minha alma
Brancos no sol de fazer pensamentos
O arrozal dança e convida para a vida
Leio livros de ouro nas asas dos mil pássaros
A respiração esvai-se num único e harmonioso tom musical
Sussurro do universo querendo-me inteira para realizar sonhos
Busco
A palavra habita minha existência
Penso nela como um amor platônico
Fico horas a pão e água imersa neste universo sutil
_____________________________________________mágico
Desfiles em saias rodadas
Vestidos decotados em lânguidos corpos de significados exóticos
Respiração profunda
Um peixe nada tranqüilo no líquido amniótico
Meu útero se parte multiplicando a beleza {saudando a vida}
Uma flor de perfume nunca sentido antes
Um amor sem fronteiras querendo encontrar sua metade imperfeita
Pequenos frascos
Febril
Feérico
Fecundo
Procura-se
Ruminar não é coisa só de Gado...
Prato de comida na mão
Olhos fixos no tempo de ninguém
Se pensava ou só ruminava?
A boca mexia mobilizando um conjunto de músculos autômatos
Uma tristeza de ser aquilo que se era...
Se alimentava ou só comia?
Olhando era um réptil desses pré-históricos
Sem interesse pela vida moderna
Se vivia ou só estava viva?
Cansada de ruir
Uma pessoa roendo a vida
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Essa vontade de saber Esse tempo que passa___________leva os dias contados marcados em relógios de parede Esse mel que lubrifica a garganta Esse suspiro que sai do fundo do peito em êxtase extremo Essa cara que tenho modifica sem que percebam Esse dia que eu não sou eu Essas fotos que estou alegre se triste sorrindo assim mesmo pra não ficar feio Esse jeito de viver que não muda Essa boneca esquartejada cabeça quebrada braços pernas perdidos na caixa de brinquedos Esse quebra cabeça interminável Mudo de fazer dó música poesia cinema:Esse sonho vagaroso que corroe entranhas Essa visita na morada dos rins Coração que fosse não aguentaria tanta emoção Esse eu perverso de sentimentos e palavras em uma só letra H
Nada
O que não mais é e tem que ser
O que não se quer e é seu
O que deixou de existir e não se foi
A solidão
Ventre
Consciência de existir com choro e reclamação
Pratos Panelas
Brinquedos no chão
Em toda parte você
Fragmentos Fotos Quimera
Casa marido filha e eu?
Dias de chuva Dias de sol
Passeios Trepidações
A vida anda...
Paciência
Adivinhar linhas das mãos...
Evidenciar o caos...
Morder as partes moles da boca...
Revirar os olhos...
Formigar língua pés orelhas...
Esperar passar o feriado
Amolecer o corpo...
Cuspir sangue...
Respirar as horas...
Frio nos pés!
Músicas vindas de fora
Teto baixo cor suja dores na alma
Ventre de aço
Os sapos não cantam sem água
Nem nós
Vozes ecoam do rádio
Do jornal letras
De mim sombras!
Nada nada nada
Nem eu nem tu nem nós...só
Infinito deserto...
Unhas em crescimento
Cabelos grandes... Miolo
Falta memória é tristeza!
Nada nada nada...
4 comentários:
O espetáculo ´´Infrutescência´´está aprovado na lei de incentivo a cultura para captação, quem se interessar favor entrar em contato.
com muita esperança de dar continuidade ao projeto.
helena soares
helena:
te encontrei no serguilha.
romério
Olá, conheci teu trabalho através da antologia comemorativa dos 25 anos do psiu poético, da qual tbm participo com três modestos poemas. Andei zapeando teu blog e gostei de tudo que encontrei... vida longa ao teu talento. bjs!!
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