terça-feira, 8 de outubro de 2013


A__Travessando
...Experimento cênico...Performance...Processo.

Verdades e mentiras





...Experimento... Performance...rascunho.
Estamos vivendo sobre o prisma da mentira: a constituição assegura-nos direitos, e o que vivemos é um esculacho em relação ao respeito e dignidade ao ser humano e a vida no planeta.  Somos escravos?
Apanhamos e vivemos sobre condições degradantes e se reivindicamos somos retalhados com truculência, arrogância etc. Somos violentados em nossas escolhas. As mulheres continuam sendo violentadas e assassinadas, muitas vezes pelo próprio marido. E as leis servem para quê? Estamos avançando? Daqui para frente como vai ser?
A__Travessando faz uma reflexão sobre essas verdades e mentiras e como estamos nos vendo daqui para frente. Interage com diversas formas de linguagens, utilizando a poesia, dramaturgia, vídeo e espaço como lugar de pensar dançando.
O Objetivo é produzir reflexões sobre temas que nos aproximam, fortalecendo nosso desejo de viver, lutar pelos nossos direitos e dignidade, e produzir debates sobre essas verdades e mentiras.

Dramaturgia
O Texto: criação e dramaturgia de helena soares
A__Travessando
Verdades e mentiras

Em Off uma mulher faz um discurso inflamado e extremamente emotivo sobre os nossos direitos  garantidos pela constituição e direitos humanos. E imediatamente ela é agredida. Ouve se gritos.
Ela: Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos, e devem agir em relação umas as outras com espírito de fraternidade. Sem distinção de qualquer espécie, seja raça, cor, língua, religião ou qualquer outra condição. todos tem direito a vida, a liberdade, e a segurança pessoal.
Ninguém será mantido em escravidão. Ninguém será submetido à tortura, a tratamento e castigo cruel desumano e degradante!
Deixa chegar o sonho, preparem uma avenida que a gente vai passar!
Ninguém será arbitrariamente preso, detido, ou exilado!
(Ela é atacada, agredida pelos policiais truculentos).
Ela: Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! (quebra uma garrafa de vidro) Me larga! Tira essas mãos sujas de cima de mim! (mais vidros quebrando) Sem violência! Eu sou artista, mãe de família, trabalhadora! 

Entra agora em cena: Ela observa, mostra uma folha em branco para o público, dança com o espaço, vai até a terra e procura por algo que faça sentido: a terra é o lugar da esperança, da pergunta, do começo.

Cenário: Um monte de terra e folhas brancas
Uma projeção do vídeo: o gado e ópera cantada por Maria Callas.
Alguns objetos de cena, que estão escondidos dentro da terra, flores marcando cada espaço.
 (ela observa)

 Ela: O mundo tinha acabado mesmo. Eu outra. O corpo querendo descanso para recomeçar ou terminar.
Tinha vontades: comer feijão, arroz, beterraba e banana.
O tempo era outro. Redescobrindo tudo... Aprendendo a gostar...De cachorro, planta, nuvem...
Primeiro foi por que não tinha dinheiro, agora, é por que não tem dinheiro.
Seguir a gente segue, o que fica por fazer dói.
As coisas são caras meu caro! 
Dinheiro é cara ou coroa!
Ou se compra a corda
Ou se acorda comprando
O poema está acima disso tudo, escorrega pelo corpo querendo sair nos dedos.
Finge estar cansado para deitar no pensamento, depois corre água no riacho das veias em direções múltiplas, expandindo geografias nos sentidos.
O poema pari a gente de novo
Ri matreiro das asas ensaiando o voo, depois, fica em silêncio olhando...
                                -§-
Esvaziar-se das coisas... pacientemente apreciar velas acesas
Os sons atravessam o inevitável sentido. A vida acontecendo...
gosto de gente, cachorro, coisas...

Foi na cútis o afeto do vento
É outono, sinto-me em casa.
Não tenho pressa. Se tem, tem se não tem, que que tem?
É outono, não tenho pressa. 
                -§-
O gado ruminando debaixo da lua
Os cabelos da cabeça crescendo
Meu desejo de ser toma partido no seu corpo
Beija e voa em direção ao néctar
Amar tem que ser no tempo certo para não perder a muda.
§
Texto falado mais direto com o público

A cada 2 minutos cinco mulheres são espancadas
A cada 2 horas uma mulher é assassinada
Os agressores são parentes, maridos, namorados, ex-companheiros- homens
De cada 3 pessoas atendidas no SUS por razão de violência doméstica ou sexual 2 são munheres
As mulheres são chamadas de...(estala os dedos) se mostram tudo, se não mostram nada, se apanham caladas, se apanham gitando, se denunciam, se não denunciamo,  As mulheres são chamadas de... Ocupamos o 7º lugar em vítimas de violência doméstica, maus tratos e assassinatos contra  mulheres, crianças e jovens.
Nossa população carcerária, a maioria são nossos filhos de 18 a 34 anos, pobres, negros e sem instrução. tem sido assim: Uso da perpetuação da ignorância como instrumento dominação e o medo como mecanismo de controle social.
Todos pensando igual e ai de quem pense diferente!
Mas nós mulheres pensamos diferente sim, nós somos um tipo de gente que vê no caos a criação, que vê no escombro e na escuridão um caminho possível.

-§-
(Na terra)

Acabrunhada deu para não olhar da janela
Está imóvel na árvore, camuflada como uma Coam.
A noite ela solta seu canto de morte
(pia como uma coam)
A cidade treme assombrada
quem ainda é vivo trata de benzer-se
Se ainda é mundo, céu, quiçá inferno.
Ninguém sabe que ela dói
Letras jorram de sua respiração formando palavras ao ar
Do alto, flutuantes frases se soltam pelos vazios entre prédios.
Ela gesta poesia
Ela pari poesia
ela é poesia
(Espalhando terra sobre folhas brancas, produzindo barulho e palavras)

Concha caralho cuscuz, curnicha calcinha cueca, cálidas Caladas Casas, Comida, Caídas Calças Calções, Curta Cama Carinhosamente, Caramujo Cominho Comida, Cautelosamente Cante, Caramba Catapora Caxumba, Comprimento Cruzes! Crime Cálice!
 -§-
(Vai chamando as pessoas para a cena)
Onde você mora?
Aqui tudo virou de cabeça para baixo depois que ouvi o sonoro timbre de tua voz
Me chama! Diz que sou eu a personagem de tua ciranda!
Me beija! Deixa-me passar a mão em teus olhos de estrelas
Deixa-me dançar mais vezes na lua de teus acordes
Vem! muda o mundo comigo?
Onde você mora? Deixa eu te ver, olhar, saber.
Deixa tudo virar... Vem! Muda o mundo comigo?
Agora sou eu que grito do alto da cidade meus temperos e destemperos
Hei! Onde você mora?
Estamos todos perdidos nesta selva de prédios
Eu sei que você me ouvi
Eu sei que você me olha, de longe.
Gemendo, chorando, pulsando, gritando.
Sorrindo, gargalhando, masturbando
Eu por dentro
Eu distante
Eu com medo
Deixa eu te ver, olhar, saber.
Vem! Muda o mundo comigo?
Onde você mora?
-§-
... Daqui pra frente é o começo...
Estou abrindo os olhos
Me olhando... Me pegando...
Estou diferente!
Começando outra eu
Estou tentando gostar
Aprendendo ler cada rabisco na pele

Estou muito marcada
Tem letras em todas as línguas
Rios que foram interrompidos
Flores esquecidas
Noites mal dormidas

Está tudo registrado em todas as línguas
...Daqui pra frente é o começo...
Estou abrindo os olhos

Helena Soares – 27-07-2013
Cia.h3
Teatroh3.blogspot.com
Cel: 31 92180075
e-mail: helenasoares.s@gmail.com
Apresentação feita em Uberlândia M.G no encontro de MTG -setembro 2013


 

 

 

Nenhum comentário: